quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Nunca fui eu mesma...


Sábado. 02h55min da madrugada uma mulher de altura mediana e trajando uma luxuosa roupa anda pelas ruas da capital paulista cantarolando: “(...) O mundo é dos homens, mas não seria nada sem uma mulher (...)”. Encosta-se em um poste, joga seu cigarro no chão e o pisa.

Segundos depois ela continua caminhando até encontrar um bar; o lugar é de péssima qualidade e visivelmente mal freqüentado, mas ela entra assim mesmo. Sempre olhando para o chão ela caminha passos vacilantes até encontrar uma mesa vazia. Senta-se, apóia o rosto sobre as duas mãos. Ela observa atentamente a garçonete do lugar com suas roupas minúsculas roupas e o belo corpo sempre assediado; a moça vem em sua direção e ela e a mulher então devia o olhar.

-A senhora vai querer alguma coisa?

A mulher nada respondeu.

-Senhora? Deseja alguma coisa?-insistia a garçonete mascando seus chicletes de menta-

-Um ‘Blood Mary’... Por favor. -disse com voz macia, mas vacilante.

Minutos depois a jovem volta toda rebolativa com o drink.

-Mais alguma coisa?

-Não... -diz com som quase imperceptível-

-Ok

-Moça?Por favor, sente-se aqui, eu preciso falar com você...

A garçonete com olhar espantado balança a cabeça em como quem nada estava entendendo.

-Ahmmm... Não posso, estou no meu horário de serviço...

-Você é uma mãe descontente e uma mulher dominada!-voz firme dessa vez-

A garçonete dá uma risada e olha para os lados procurando uma testemunha.

-A senhora está bem?

-Não... Eu não estou nada bem e para que você não fique como eu estou hoje é que eu tenho que te falar sobre a minha... Vida.

A garçonete estala os dedos e a mulher com um sinal a convida para sentar à sua frente. Mordendo os lábios a moça aceita o convite.

-Olha, seja muito breve... Eu não posso perder esse emprego. Por favor.

-Você tem muitos sonhos mocinha; sonha com coisas que nunca fará... Pelo menos não do jeito certo.

-Por favor, a senhora está bêbada...

-Eu vejo tanto de mim em seus olhos. Ah, moça eu estive em muitos lugares como este aqui e sonhava em ganhar o mundo. Minha beleza foi meu trunfo pra conquistar tudo e. Conquistei tudo que uma bela jovem ambiciosa quer: Fortuna, paixões... Passei boa parte da minha vida de joelhos.

A garçonete arregala os olhos verdes.

-Eu estive nos braços dos homens mais poderosos e vi algumas coisas que uma mulher nunca deveria ver. Eu sempre fui maior que eu mesma e tinha a necessidade de ser livre

A mulher bebe seu drink

-Eu estive em muitos lugares do mundo, conheci castelos, mares...

-E hoje chora?

-Eu choro pelo verdadeiro amor que abri mão e. Eu choro pelas minhas crianças não nascidas. Entreguei-me a uma prostituição que muito difícil de se libertar;todos me adoravam,mas todos mentiam sobre mim.Eu vivia no paraíso,mas nunca fui eu mesma.

-Mas a senhora experimentou o doce da vida!!

-E jamais pensei que ficaria amarga por causa disso. Eu quis tudo e hoje me resta apenas o fim que os meus caminhos tortuosos desenharam.

A garçonete segura as mãos da mulher e olha bem fundo em seus olhos

-Quem é você?

A mulher se levanta, joga uma duas notas gordas sobre a mesa, toma seu último gole.

-Eu sou uma mulher linda, loira, rica, bêbada e solitária.

-Mas a aonde a senhora vai... Eu não entendi nada!

-Apenas entenda que o paraíso não existe, é uma ilusão sobre as pessoas como nós gostaríamos que fossem... Adeus moça.


Texto baseado na canção “I’ve never been to me”

10 comentários:

  1. Confuso, pertubador, doloroso...
    Um texto que traduz muitas emoções e incomoda a alma.
    Parabéns

    estarei sempre aki...

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  2. Uau!!!
    Maravilhoso!
    Um texto que mais se parece com um roteiro de cinema, frases marcantes, enredo como já disseram, perturbador!

    Belíssimo texto! Parabéns!

    ps: Obrigado pelos comentários, são críticas construtivas. Agradeço!

    Meu msn é segreto hein...-risos- é : pedro_sarezende@hotmail.com

    Abçus!

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  3. Que história legal. Sei que existe muitas mulheres como essa que você descreveu... tristes, presas em um medo que por vezes elas mesmas construiram. Bela hostória,gato! Beijos.

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  4. Belíssimo texto! Sua escrita é sensacional!
    Abraço!

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  5. =o
    cara, ótimo texto e cruelmente real :)
    continue escrevendo ^^
    (e sim, tenho uma séria dificuldade em fazer posts curtos xD)
    bju
    teh +
    o/*

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  6. Muito bom o texto!
    Machuca a alma de tão real

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  7. olá John Rômulo ,

    q fowfo vc é,
    obrigada pela sua visita querido,
    seja sempre bem vindo em meu blog,
    agora qto ao seu blog ,estou emocionada com tanta coisa linda.....vc é muito inteligente viu moço,sabe das coisas hein......
    temos blogs em comum "passageiros do mundo" adorooooooo

    vou te linkar ok
    e TE SEGUIR TB......

    BJK

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  8. Poxa, muito bom.
    Daria pra fazer um curta metragem sobre isso.
    otimo post. parabens, e obrigado pelo comentario no meu blog, conto com sua participação. Abraços

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  9. Mto bom!
    Rômulo vc é maravilhoso!!!
    post belissimo!!!!!

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  10. Li o texto enquanto ouvia Being Boring do Pet Shop Boys...

    Acaso ou não?

    Pra mim fez sentido e me tornou mais introspectivo nesta noite... Depois comento mais sobre...

    Abraços

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