Sábado. 02h55min da madrugada uma mulher de altura mediana e trajando uma luxuosa roupa anda pelas ruas da capital paulista cantarolando: “(...) O mundo é dos homens, mas não seria nada sem uma mulher (...)”. Encosta-se em um poste, joga seu cigarro no chão e o pisa.
Segundos depois ela continua caminhando até encontrar um bar; o lugar é de péssima qualidade e visivelmente mal freqüentado, mas ela entra assim mesmo. Sempre olhando para o chão ela caminha passos vacilantes até encontrar uma mesa vazia. Senta-se, apóia o rosto sobre as duas mãos. Ela observa atentamente a garçonete do lugar com suas roupas minúsculas roupas e o belo corpo sempre assediado; a moça vem em sua direção e ela e a mulher então devia o olhar.
-A senhora vai querer alguma coisa?
A mulher nada respondeu.
-Senhora? Deseja alguma coisa?-insistia a garçonete mascando seus chicletes de menta-
-Um ‘Blood Mary’... Por favor. -disse com voz macia, mas vacilante.
Minutos depois a jovem volta toda rebolativa com o drink.
-Mais alguma coisa?
-Não... -diz com som quase imperceptível-
-Ok
-Moça?Por favor, sente-se aqui, eu preciso falar com você...
A garçonete com olhar espantado balança a cabeça em como quem nada estava entendendo.
-Ahmmm... Não posso, estou no meu horário de serviço...
-Você é uma mãe descontente e uma mulher dominada!-voz firme dessa vez-
A garçonete dá uma risada e olha para os lados procurando uma testemunha.
-A senhora está bem?
-Não... Eu não estou nada bem e para que você não fique como eu estou hoje é que eu tenho que te falar sobre a minha... Vida.
A garçonete estala os dedos e a mulher com um sinal a convida para sentar à sua frente. Mordendo os lábios a moça aceita o convite.
-Olha, seja muito breve... Eu não posso perder esse emprego. Por favor.
-Você tem muitos sonhos mocinha; sonha com coisas que nunca fará... Pelo menos não do jeito certo.
-Por favor, a senhora está bêbada...
-Eu vejo tanto de mim em seus olhos. Ah, moça eu estive em muitos lugares como este aqui e sonhava em ganhar o mundo. Minha beleza foi meu trunfo pra conquistar tudo e. Conquistei tudo que uma bela jovem ambiciosa quer: Fortuna, paixões... Passei boa parte da minha vida de joelhos.
A garçonete arregala os olhos verdes.
-Eu estive nos braços dos homens mais poderosos e vi algumas coisas que uma mulher nunca deveria ver. Eu sempre fui maior que eu mesma e tinha a necessidade de ser livre
A mulher bebe seu drink
-Eu estive em muitos lugares do mundo, conheci castelos, mares...
-E hoje chora?
-Eu choro pelo verdadeiro amor que abri mão e. Eu choro pelas minhas crianças não nascidas. Entreguei-me a uma prostituição que muito difícil de se libertar;todos me adoravam,mas todos mentiam sobre mim.Eu vivia no paraíso,mas nunca fui eu mesma.
-Mas a senhora experimentou o doce da vida!!
-E jamais pensei que ficaria amarga por causa disso. Eu quis tudo e hoje me resta apenas o fim que os meus caminhos tortuosos desenharam.
A garçonete segura as mãos da mulher e olha bem fundo em seus olhos
-Quem é você?
A mulher se levanta, joga uma duas notas gordas sobre a mesa, toma seu último gole.
-Eu sou uma mulher linda, loira, rica, bêbada e solitária.
-Mas a aonde a senhora vai... Eu não entendi nada!
-Apenas entenda que o paraíso não existe, é uma ilusão sobre as pessoas como nós gostaríamos que fossem... Adeus moça.
Texto baseado na canção “I’ve never been to me”