domingo, 14 de fevereiro de 2010

Latejante



Tarde sonolenta e quentíssima. Ingredientes perfeitos para um ostracismo dos sentimentos e tudo indicava que minha tarde seria de fato assim mesmo, mas sabem eu acredito em anjos; acredito que nesse nosso universo,nessa canoa repleta de remendos,exista sempre uma força maior,que uns chamam de Deus e eu apenas chamo de hoje de cosmos,que conspira contra ou a nosso favor( uma questão ângulo de visão).Dias,semanas até que eu tenho sentido muito pouco a pessoas e a mim mesmo e isso me deixa,como disse certa vez Clarice Lispector,morto,muitíssimo alias.As pessoas,todas,me pareciam absolutamente desinteressantes ,com uma espécie de feiúra que não agride,mas acua.
Calor insuportável, que faz com que nós tenhamos sono e ao mesmo tempo não conseguimos dormir; levantei-me e sentei na cama e foi nesse exato momento que ouço cada vez mais forte uma melodia conhecida aos meus ouvidos, mas não conseguia saber qual era!Me debrucei na janela e passa na minha frente um senhor aparentando seus 70 anos.Coitado,seu inglês era pavoroso,mas a melodia me deixava intrigado e era lindíssima!Ele a cantava de forma forte e orgulhosa. Sou tímido demais, mas eu senti aquele senhor tão brutalmente, como a há muito tempo não sentia a ninguém,que pulei da cama,abria as portas do quarto e da sala e fui correndo até ele
-Meu senhor, meu senhor!
-... Oi...?
-Perdão, mas essa música que senhor está cantando...
-Frank Sinatra, meu filho!
-My way!
E como num relâmpago minha mente se iluminou e juro por tudo que eu vi o nome da música num letreiro iluminado e foi como se chão onde eu estava ficasse todo estrelado, mas por uma luz mais forte que a do sol. Iniciou-se em mim um fabuloso eclipse. Não me despedi do pobre velho e voltei correndo para o meu quarto, liguei o meu amado computador e fui correndo ao You tube:Frank Sinatra my way tradução e pronto, encontrei um vídeo com um dueto incrível.Frank Sinatra e Luciano Pavarotti cantando “My way”...Dei meu primeiro grito!Coloquei o vídeo para carregar e já esperava a lentidão de sempre, mas sabem, meus caros, eu tenho mesmo que acreditar em anjos, pois aquele vídeo carregou de forma tão rápida... E começou com a voz de Sinatra e foi até a metade e depois Pavarotti e no fim suas vozes juntas. No meio disso tudo eu tiver um turbilhão de emoções tão fortes, meus senhores, mas tão fortes que esbravejei com os braços em riste e me senti inchadíssimo como um balão e chorei oceanos!Toda a melodia, a voz charmosa de Sinatra (que faz qualquer um morde os lábios e bambear as pernas) e a voz brutal e emocionada de Pavarotti (que faz qualquer um ajoelhar-se a agradecer por ter nascido no mesmo planeta que esse homem) e a aquela poesia musicada me fizeram voltar a viver deveras!
A letra por completo é de uma crueza visceral e cristalina e tão arrebatadora que deveria ser tocada sempre (eu disse SEMPRE com obrigação mesmo) em todo os aniversários e funerais.A letra fala do fim de uma etapa vendida( ou não),de um peleja travada com honra e brutalidade e ao mesmo (e por que não?) com mansidão.Ela toda nos nivela a simples condição de seres viventes e que carregam dentro de si toda sorte de paixão,não importando se boas ou más.Não importa se você até ali teve uma vida alucinada,falando e fazendo o queria ou se teve que dissimular e ser medíocre,não importa!Seja lá o que você fez, tenha certeza de foi do SEU JEITO.
De todos os versos o que me deixou mais fervoroso foi esse:
“Quando eu mordi mais que eu podia mastigar
Entretanto, quando havia dúvidas
Eu engolia e cuspia fora”
GENIAL e dogmático!
Pessoas!Estou vivo e com uma fome danada de gente. Cada pessoa me está apetitosa e vou morde-los.Preparem-se,pois não serei delicado;estou sentindo ódio de novo e amor por algumas pessoas.Como é fabuloso sentir seu corpo todo latejar e o meu está latejando por cada um de vocês!
Todos nós somos uma ferida viva e cheia de infecções, mas com o tempo se não nos coçarmos a ferida vai criando aquela casquinha e para de doer!Nós temos que nos doer. A cicatrização é morte dessa ferida... Não permita que isso ocorra!Ande meta logo esse dedo na sua ferida e coce bastante, coce muito, muito mesmo e permita que outros dedos intrusos te adentrem!
Não existe nenhuma mensagem aqui de “Ô, seja feliz e viva a vida intensamente!”. Não, nada disso.Se você tiver que ser ou se Passar por alguma coisa,eu o peço que faça DRAMATICAMENTE.É isso que eu entendi ou quis entender da letra da música!É TER TESÃO PELOS GOZOS E DORES DA VIDA!Simples assim!
Estou latejando completamente e tomara que dure muito, muito mesmo!

Obs: Estou escrevendo esse texto com uma amargura brutal no peito!Não sei ao certo o motivo, mas se isso me faz latejar então me dou por satisfeito.



[Meu Jeito]
E agora o fim está próximo Assim eu enfrento a cortina final Minha amiga, eu direi isto claramente Eu declararei meu caso do qual eu estou certo Eu vivi uma vida que está cheia Eu viajei cada e toda estrada E mais, muito mais que isto Eu fiz do meu jeito Pesares, eu tive alguns Mas novamente, muito pouco pra mencionar Eu fiz o que eu tive que fazer E vi isto através de nenhuma exceção Eu planejei cada gráfico do percurso Cada passo cuidadoso ao longo do caminho Oh, e mais, muito mais que isto Eu fiz do meu jeito Sim, havia tempos, tenho certeza que você sabe Quando eu mordi mais que eu poderia mastigar Mas alem disso quando havia dúvida Eu engolia e cuspia fora Eu enfrentei tudo e eu me mantive alto E fiz do meu jeito Eu amei, eu ri e chorei Eu tive minhas faltas, minha parte de perder, E agora que as lágrimas cessaram Eu acho isso tudo tão divertido Pensar eu fiz tudo aquilo E se posso dizer, não de um modo tímido Oh, não, não eu Eu fiz do meu jeito Para o que é um homem, o que ele tem Se não ele proprio, então ele não tem Dizer as palavras que ele verdadeiramente sente E não as palavras que ele revelaria Os registros mostram que eu recuperei o folêgo E fiz do meu jeito Os registros mostram que eu recuperei o folêgo

7 comentários:

  1. quanta maravilha ... voltou com a corda toda eim queridão?

    sempre se superando em inspiração ...

    My Way

    ;-)

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  2. Gostei da dor escrita! Veja bem não estou tripudiando não... acho que a criação é um parto aberto e contaminado mesmo. Que ideias maravilhosas! Que correlações!

    BRAVO!

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  3. Oi John, tudo bem?
    Menino, voltou firme e forte heim? rsrs
    Ficou ótimo o texto.
    Que bom q gostou, tava super inspirado quando o fiz, rsrs
    Bjo
    :)

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  4. "As pessoas,todas,me pareciam absolutamente desinteressantes ,com uma espécie de feiúra que não agride,mas acua."


    como me identifiquei com essa parte, sei lá, mas tem dias que parece que tamos "sabendo mais", e como diz um conto do Caio, o nosso olhar ultrapassa os outros porque vê muito mais além do que a maioria vê.

    sempre inovando o visual do blog, ótimo. A foto tá ótima. Abraço, até.

    Rodolpho A.

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  5. Heeeeeeeee amigo! Maravilha de texto! Contagiou geral! Precisamos desta inquietação, da barafunda de sentimentos pauleiras. Sensações para sentirmos a vida pulsando, latejando!

    Desculpe a demora..Sou foliona. E ainda estou adiando a minha volta ao RJ, no possivel rsrs. Ah, adorei o cabeçalho do blog!

    Beijos, com carinho

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  6. Vim retribuir a visita e gostei, afinal, temos algo em comum: Caio e Clarice. Pessoas únicas que souberam, como ninguém, sintetizar os sentimentos...

    Seu texto é forte. Gostei. Mas não me morda...

    Beijo

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  7. Bom, o texto é bem dramático, amo essa fome de amor e pessoas que você está tendo, porque também estou sentindo. O mundo está pobre de pessoas com gosto de salmão, e ploriferando os sabores de fast-food, da superficialidade. Adorei o texto, e faço dele, meu!

    Ps: Ouça Luciano P. irá adorar, sobretudo as obras de Verdi, como La Traviatta.E Nessun Dorma.

    =)

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